Rescaldos
Passo por uma casa de pedra que é a minha cara e imagino como será viver aqui, ao lado desta comunidade de gente pronta para o imprevisível. Espreito pelo portão de madeira e procuro pequenos pormenores que me fazem "lembrar" a minha vida aqui: uma mesa na entrada, pronta a receber quem chega e tem fome ou quer apenas sentar-se a apanhar os últimos raios de sol, escadas que levam a uma sala em tons terra, um sofá confortável, janelas que convidam a luz a entrar, alguns toques de cor, em tons quentes, a mostrar que ali há vida.
Sonho com as portadas de madeira e como seria bom escancará-las assim que o sol nascesse ou fechá-las em dias mais frios, acendendo a lareira que a chaminé de pedra faz adivinhar.
Estou sentada num muro de pedra que parece ter sido feito exactamente para o momento em que me apetecesse ficar por aqui. As minhas costas sentem o frio da temperatura certa para amenizar a meia dúzia de raios de sol que me aquecem as pernas e os meus pés ficam pendurados a sentir o musgo fofo que teima em nascer da pedra árida.
Sinto-me em paz, como há muito tempo não tinha. Fiz a escolha certa, de estar dois dias apenas a falar comigo e com Ele. Vou trocando uns sorrisos pelo caminho e acaricio a chama que puz ao peito, num compromisso silencioso. Não sei se o cumpro, não sei se tenho forças, não sei se já sei o que Ele quer para mim.
Aninho-me apenas no meu banco improvisado e deixo-me ficar, de olhos, ouvidos e coração abertos.
Taizé, 25 de Agosto