poema para mim

não aconteceu nada a ninguém,
não estou em nenhum sítio,
acontece somente que sou feliz,
de coração pleno, quer andando,
dormindo ou escrevendo.
Que hei-de eu fazer, sou feliz,
sou mais vasto do que a erva nas planícies,
sinto a pele como uma árvore rugosa,
a água em baixo, os pássaros em cima,
o mar como um anel à roda da minha cintura,
a terra feita de pão e de pedra
e o ar cantando como uma guitarra.
Ao meu lado na areia tu és areia,
cantas e és canto,
o mundo é hoje a minha alma, canto e areia,
o mundo é hoje a tua boca,
deixa-me ser feliz na tua boca e na areia,
ser feliz porque se eu respiro é a ti que eu devo,
ser feliz porque acaricio os teus joelhos
e é como se acariciasse
a pele azul do céu e a sua frescura.
Hoje deixai-me ser feliz sozinho,
com todos e ninguém,
ser feliz com a erva e a areia,
ser feliz com o ar e a terra,
ser feliz, contigo, com a tua boca, ser feliz.
Pablo Neruda
[tem tanto a ver comigo que é impressionante. nunca tinha falado dele, mas já fazia parte dos meus favoritos há muito tempo e esqueci-o entre tantas novidades bonitas. foi uma surpresa boa teres dito que era para mim. mostra que me conheces e que sabes que essa felicidade me basta. ontem surpreendeste-me de novo por veres que, no meio de tanta confusão, acabo por encontrar esta felicidade que é mais forte que eu. na tua melancolia, espero que encontres uma felicidade só tua, boa, calmante, descansada. daquelas em que se está tão bem só com a erva ou a areia. e é preciso mais?]
2 comments:
Ena! Tão lindo!
é do primeiro livro de poesia que comprei, quando o reli recentemente achei logo que o título deveria ser o teu nome ou simplesmente dedicado a ti.. enfim, é líndissimo como o teu coração, transmite a alegria que tens nas coisas mais simples da vida e que dás a todos os lugares físicos e humanos onde estás.
Eu ficarei na minha melancolia/apatia habitual, é dessa janela que se vê melhor e no meio da confusão o quanto vocês são todos tão bonitos.
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